A situação, que, à priori, pode ser considerada apenas política, também traz à tona um assunto de interesse humano: o envelhecimento natural e o seu impacto na cognição. Conforme envelhecemos, o cérebro a por alterações estruturais e funcionais que podem afetar a atividade cognitiva.

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"Essas mudanças podem trazer a redução do desempenho cognitivo em alguns domínios, como velocidade de processamento de informações e problemas de memória", afirma à CNN Carolina Rebellato, especialista em gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e professora do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Alguns exemplos comuns desse impacto é a dificuldade de recordar nomes, números de telefone e objetos guardados. No entanto, esse declínio cognitivo natural ao envelhecimento pode não trazer impactos nas funções cotidianas, conforme explica Diogo Haddad, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

"Existe, sim, um declínio cognitivo que é normal e usual [no envelhecimento], e o grande ponto é que essa queda cognitiva natural não impacta na funcionalidade de uma pessoa", afirma o especialista. Porém, ele ressalta que, quando as atividades do dia a dia e outras funções começam a ser afetadas pelo declínio cognitivo, pode ser sinal de algum problema mais sério de saúde, como a demência.

Por que a função cognitiva é impactada no envelhecimento?

Segundo Rebellato, fatores internos e externos estão envolvidos no impacto do envelhecimento nas funções cerebrais.

"Há aspectos biológicos como perda de neurônios, redução da densidade sináptica [comunicação entre neurônios] e da produção de neurotransmissores, acúmulo de determinadas proteínas no cérebro, redução de síntese e absorção de vitaminas, e mudanças hormonais que podem trazer alterações no desempenho cognitivo no geral", explica a geriatra.

Além disso, o processo de envelhecimento neurobiológico do cérebro pode vir acompanhado de outras perdas de funções no corpo, como a perda sensorial e de processamento auditivo e visual. "Isso pode afetar os processos cognitivos e dificultar de aprender e processar informações, dar respostas adequadas ao que é preciso", acrescenta.

Por outro lado, existem fatores externos que podem afetar a cognição e são acumulados ao longo da vida. É o caso do sono insuficiente, da alimentação inadequada e do estresse, segundo Haddad.

"A ausência de estímulos cognitivos também pode gerar um impacto na cognição", afirma o neurologista. Esses estímulos incluem atividades que exigem atenção e raciocínio, como jogos, aprender um novo idioma, realizar cálculos matemáticos, fazer trabalhos manuais, escrever e, até mesmo, meditar.

Outros fatores que podem acelerar a queda da cognição no envelhecimento são:

Quando o declínio cognitivo pode indicar demência?

O impacto do envelhecimento na cognição é algo natural e, em alguns casos, não representa um risco à saúde. No entanto, quando esse declínio a a afetar atividades cotidianas ou leva a alterações de comportamento e de personalidade, pode sugerir um quadro de demência que deve ser investigado por um médico especializado.

"O grande ponto é conseguir analisar seus próprios sintomas e ter um médico para analisar se, realmente, é algo normal ou se é o início de um comprometimento cognitivo leve ou um processo demencial", orienta Haddad. No geral, existem três tipos de declínio cognitivo, que variam em intensidade e gravidade. São eles:

"Uma pessoa com transtorno neurocognitivo leve pode apresentar dificuldade para memorizar locais, nome das pessoas e de se comunicar, além de se colocar em uma situação de maior isolamento social, além de executar atividades mais simples e ivas, como assistir à televisão ou ouvir música", exemplifica Rebellato.

Com a evolução do declínio cognitivo, transformando-se em uma demência, a pessoa pode ter problemas motores, com menor lubrificação das articulações, e comprometimento de outras funções fisiológicas. "Ela pode esquecer de ir ao banheiro, de evacuar ou urinar e, consequentemente, desenvolver problemas associados às funções geniturinárias. Além disso, ela pode ter dificuldade de deglutição [engolir alimentos ou líquidos]", acrescenta a geriatra.

Sinais e sintomas comuns de declínio cognitivo

Os sinais e sintomas de declínio cognitivo podem variar conforme a causa. Por exemplo, o Alzheimer representa cerca de 60% a 80% dos casos de demência. Porém, outros transtornos podem causar a condição, como a demência vascular, demência por corpos de Lewy, demência frontotemporal, demência relacionada ao vírus da imunodeficiência humana (HIV) e Parkinson.

Alguns quadros clínicos também podem levar à demência de maneira reversível (ou seja, tratável a partir da resolução ou manutenção da doença), como hipotireoidismo, deficiência de vitamina B12, tumores cerebrais, doença de Lyme, doenças autoimunes e esclerose múltipla. Nesses casos, os sintomas podem surgir também em pessoas mais jovens.

De maneira geral, os sinais e sintomas de declínio cognitivo mais comuns são:

O diagnóstico é realizado por avaliação médica, testes cognitivos e neurológicos, além de exames de sangue e de imagem para descartar outras causas para os sintomas.

Como prevenir e minimizar o impacto do envelhecimento no cérebro? Veja dicas

Algumas medidas práticas podem ajudar a minimizar o impacto do envelhecimento na cognição. Os especialistas consultados pela CNN orientam a:

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