Muito se especula sobre os benefícios das áreas verdes nesses casos, mas há poucos estudos sobre os mecanismos neurais que promoveriam esse efeito. Para suprir a lacuna, os autores selecionaram 92 voluntários, que foram submetidos a um teste de atenção que exigia muito esforço mental, deixando-os esgotados.

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Depois, foram divididos em dois grupos: metade caminhou durante 40 minutos numa área de bosques e os demais num ambiente urbano. Durante o teste, os participantes foram monitorados por meio de exames de eletroencefalograma (EEG), que mapeiam a atividade elétrica em regiões do cérebro.

O objetivo do estudo era investigar não só a capacidade de restauração da atenção, mas aspectos como o controle executivo, que envolve os processos de planejamento e gerenciamento de ações voltadas a determinado objetivo.

Ao final da caminhada, todos repetiram o teste e reportaram como se sentiam. Esses dados, aliados aos resultados do EEG, revelaram que a simples caminhada leve, em qualquer ambiente, melhora a atenção e ajuda a recuperar as funções. No entanto, os que andaram em contato com a natureza se saíram melhor nas tarefas de controle executivo e relataram maior recuperação que os demais.

“O estudo sugere que a natureza permitiu que os mecanismos neurais relacionados ao controle executivo descansassem e se recuperassem. Ou seja, essas pessoas conseguiram completar melhor a tarefa após a caminhada”, avalia Eliseth Leão, pesquisadora e docente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. “A ativação da nossa rede de atenção é o que permite direcionar nossa concentração e manter o foco, por isso a importância da sua restauração.”

Segundo os autores, o teste reforça a teoria que descreve os mecanismos pelos quais um ambiente natural beneficia a atenção. Na natureza, a pessoa se afasta de fatores estressantes e fica mais confortável, além de que no ambiente natural a atenção não é dirigida – diferente de olhar para uma tela de celular ou ficar no trânsito, por exemplo.

“A atenção é captada de forma suave por algo que nos atrai pela beleza”, explica Leão.  “Assim, a natureza permite que os mecanismos que sustentam nossa atenção dirigida descansem e se recuperem, à medida que percebemos sem esforço o ambiente que nos rodeia.”

Como explica a especialista, o ser humano percebe o mundo por meio dos sentidos. Quem vive em grandes centros está exposto a um bombardeio de estímulos, principalmente visuais e auditivos. “A poluição sonora, por exemplo, está associada a maiores níveis de estresse, agitação e preparação para uma desnecessária ‘luta ou fuga’ [uma reação que ocorre na presença de algo ameaçador]. Alguns estudos indicam inclusive a associação entre a poluição do ar e o desempenho estudantil.”

Isso ocorre porque evolutivamente sons altos sempre representaram e, em muitos casos ainda representam, um perigo (como o urro de um animal ou a explosão de uma bomba). “Nos grandes centros, o acúmulo e a superexposição acabam exercendo um papel semelhante ao despertar uma reação mediada pelos hormônios do estresse”, explica Leão. Isso sem contar a superexposição à tecnologia, que consome atenção e produz desgaste mental.

Faça pausas

Por isso, aconselha a pesquisadora do Einstein, momentos de pausa sempre são necessários e devem fazer parte do cotidiano, mesmo de quem mora em grandes centros urbanos. O estudo demonstra que ambientes naturais e caminhadas leves têm efeitos sobre a fadiga mental e os processos cognitivos. “Estamos desenvolvendo pesquisas que demonstram, por exemplo, o papel da beleza na restauração não só da fadiga mental, mas também emocional.”

Pesquisas mostram que outras técnicas ajudam igualmente nessa recuperação, promovendo o relaxamento e mudanças nas ondas mentais, como meditação, contemplação de imagens da natureza que promovam emoções positivas e ouvir música.