Corinthians, VaideBet e PCC: entenda a investigação policial • Montagem CNN
A investigação sobre o contrato de patrocínio entre Corinthians e VaideBet, que gerou a rescisão do acordo e apura suspeitas de lavagem de dinheiro e ligação com o crime organizado, revelou divergências importantes nos depoimentos das figuras centrais do clube ouvidas pela Polícia Civil.
Três nomes ligados à diretoria do Corinthians sob a gestão de Augusto Melo foram intimados a depor como "investigados" no caso. Entre eles, o próprio presidente Augusto Melo, o ex-diretor istrativo Marcelo Mariano, e o ex-superintendente de Marketing Sérgio Moura. Eles foram ouvidos pelo Delegado Tiago Fernando Correia, do DPPC, e pelo Promotor de Justiça Juliano Carvalho Atoji, do GAECO, na segunda semana de abril.
Marcelo Mariano foi o primeiro a prestar depoimento, na tarde de 14 de abril. Em seguida, Sérgio Moura se apresentou e conversou com a polícia. O depoimento de Sérgio Moura divergiu do de Marcelo Mariano. Augusto Melo foi o último a depor, comparecendo à 3ª Delegacia do DPPC em 16 de abril.
A Polícia Civil constatou que as falas dos três investigados divergiram entre si. A principal divergência se deu em relação à apresentação de Alex Cassundé. Cassundé é considerado o intermediário da negociação com a casa de apostas e é ligado à empresa Rede Social Media Design, que intermediou o acordo e reou parte da comissão.
De acordo com apuração da CNN, nenhum dos quatro ouvidos pela Polícia Civil – o que incluiria Cassundé e os três dirigentes – apresentou qualquer evidência sobre o relacionamento entre eles para fechar o negócio entre Corinthians e VaideBet.
Para a Polícia Civil, o caso está próximo de um desfecho, que deve ser apresentado até o meio de maio. Se forem identificados indícios de crime, o inquérito será encaminhado ao Ministério Público com o indiciamento dos indivíduos.
A possibilidade é de que os crimes enquadrados sejam lavagem de dinheiro e associação criminosa. Caberá ao Promotor de Justiça decidir se oferecerá a denúncia ou arquivará o inquérito policial.
A investigação do caso VaideBet pelo DPPC e GAECO rastreou o caminho dos recursos pagos em comissão pelo patrocínio, identificando contas pelas quais circularam R$ 1,4 milhão.
Esse dinheiro, inicialmente desviado em duas remessas de R$ 700 mil para a Rede Social Media Design, empresa de Alex Cassundé, teria sido reado pela empresa de Cassundé para a Neoway Soluções Integradas, em valores que somam mais de R$ 1 milhão. A sócia da Neoway, Edna Oliveira dos Santos, afirmou desconhecer o caso.
A investigação aponta que, em março do ano ado, a Neoway transferiu cerca de R$ 1 milhão para a Wave Intermediações Tecnológicas, que por sua vez fez mais três transferências para a UJ Football Talent Intermediação, na casa dos R$ 870 mil.
É na UJ Football Talent Intermediação que a polícia identificou uma ligação com o crime organizado. Essa empresa foi citada por Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, um delator do PCC. Gritzbach afirmou que a UJ seria informalmente controlada por Danilo Lima, conhecido como “Tripa”, que é apontado como integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Em nota à CNN, a defesa de Alex Cassundé afimou que o mesmo afirma categoricamente que teve sim contato com a VaideBet, e que sempre teve a melhor e mais cristalina conduta. De acordo com a defesa, documentos mostram o caminho que ele usou para chegar até a VaideBet. "Documentos sobre isso foram oportunamente juntados ao processo e são corroborados com as oitivas", diz a defesa, que completa que Cassundé manteve contato constante com assessores do clube.
A defesa afirma que Cassundé não tem informação sobre outros intermediários, pois a empresa dele foi a escolhida, após critérios internos do clube, uma vez que já havia participado de outras campanhas do clube.
"Os rees são objeto da investigação no inquérito e não podemos dar mais detalhes além do que já é de conhecimento", conclui a nota.
Em nota nas redes sociais, o Corinthians afirmou que, até o momento, não há qualquer demonstração de autoria relacionada aos fatos mencionados.
"O presidente do Clube reafirma seu total apoio às investigações em andamento, bem como a todas as iniciativas que visem apurar eventuais envolvimentos do crime organizado no futebol brasileiro. O Corinthians destaca que é vítima das circunstâncias investigadas e reforça que não possui controle sobre o que terceiros fazem com valores recebidos em decorrência de contratos firmados. O Clube cumpre rigorosamente todas as suas obrigações legais e contratuais, prezando pela transparência e integridade em suas operações. O Corinthians reitera seu compromisso com a transparência, a responsabilidade e a justiça no esporte, apoiando todas as medidas necessárias para garantir a lisura das competições e combater práticas ilícitas no futebol", completa a nota do clube.