Há uma pressão sobre o valor dos prêmios (o custo de seguro para quem o contrata), potencialmente gerando instabilidade financeira para as seguradoras. Esse novo cenário impõe a necessidade de repensar profundamente a lógica atuarial e transformar a abordagem sobre como os riscos climáticos são projetados e istrados.

Segundo relatório Sigma do Swiss Re Institute (No 1/2025), as perdas seguradas por catástrofes naturais em 2024 totalizaram USD 137 bilhões. Seguindo a tendência de longo prazo de aumento anual real de 5 a 7%, esses valores se aproximarão de USD 145 bilhões em 2025. Isso exige uma nova perspectiva atuarial — campo que combina matemática, estatística, economia e finanças para avaliar e gerenciar riscos.

Segundo o mesmo relatório, em termos globais, as perdas econômicas decorrentes de catástrofes foram estimadas em USD 318 bilhões, as mais altas desde 2017. Desse total, cerca de 43% estavam segurados, mostrando gaps de proteção em muitas partes do mundo, inclusive em economias avançadas.

No Brasil, o cenário também impõe desafios significativos. A crescente instabilidade climática compromete a previsibilidade das séries históricas, base fundamental para o cálculo dos prêmios de seguros. A recorrência anormal dos eventos extremos demanda uma revisão nos modelos de risco, com a incorporação de ferramentas preditivas que utilizem projeções climáticas e dados meteorológicos em tempo real.

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O setor reconhece a gravidade da situação e defende a adoção de estratégias que mantenham os riscos em patamares istráveis. Isso a pela adoção de medidas de prevenção e adaptação em toda a cadeia do setor segurador.

Diante da urgência, diversas instituições do setor têm articulado ações para fortalecer a capacidade de resposta. O setor investe em ferramentas que ajudam a quantificar os riscos ambientais. A Munich Re desenvolveu o “Climate Financial Impact Edition”, que permite quantificar o potencial do impacto financeiro das mudanças climáticas sobre ativos e carteiras de investimento.

Iniciativas nacionais também estão em curso. A Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) tem a publicação “Construindo Seguros Para Transição Climática” em parceria com o United Nations Environment Program Finance Initiative (UNEP FI). Como fruto dessa cooperação, foi desenvolvido o “Mapa de Calor de Riscos Climáticos Físicos para o Brasil” e também a “Ferramenta de Cenários de Perdas Climáticas por Inundações Urbanas para o Brasil”.

A Superintendência de Seguros Privados (Susep), por sua vez, tem promovido e participado de eventos sobre mudanças climáticas com a presença de especialistas nacionais e internacionais para discutir os efeitos da crise climática sobre o setor de seguros no Brasil.

O futuro do setor segurador dependerá, em grande parte, da sua capacidade de incorporar o risco climático como variável central em suas operações. Trata-se de um processo complexo, que envolve desde a reestruturação de modelos atuariais até a adoção de políticas públicas que incentivem a transição para uma economia mais resiliente.

Diante de um cenário de incertezas crescentes, a precificação adequada dos riscos climáticos não é somente uma questão técnica — é uma exigência ética e estratégica para a sobrevivência do setor e a proteção da sociedade.

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